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À TONA

NOTA DE INTENÇÕES

Este projecto, “À Tona” vem na sequência de uma ideia maior sobre a temática de catástrofes humanas, da debilidade da espécie como refém da tecnologia. Ao longo do tempo, desde as leituras de Júlio Verne ou das Selecções do Readers Digest, impressionaram-me as expedições trágicas à Antárctica ou o desaparecimento de figuras que atentavam proezas nas mais adversas condições. Saliento o escritor Antoine de Saint-Exupéry que desapareceu nas águas do Mediterrâneo, precisamente num modelo de avião igual ao desta história. Os alemães davam o nome de “fork-tailed devil” ao P-38 e os japoneses “two planes, one pilot“, pelo facto de ter dois motores e um corpo central onde iria o piloto. Volto assim ao tema da guerra mas na dimensão mais humana da pequenez face ao meio hostil, neste caso a imensidão do Oceano Pacífico. Quis ser piloto em criança e não parava de desenhar aviões até às histórias de BD do Buck Danny. Um episódio histórico marcou-me especialmente nesta BD. O regresso de uma esquadrilha ao seu porta aviões em que o comandante se deparou com um dilema: nesse regresso o porta aviões japonês era detectado e o combustível dos aviões daria para uma de duas coisas – atacá-lo ou regressar à base. O comandante decide atacar selando o destino fatal de toda a esquadrilha.

Num filme de 10 a 15 minutos como poderia descrever o drama de um piloto abandonado à sua sorte em pleno oceano? Pretendia através da planificação do guião fazer passar a dimensão dessa situação fazendo-a coincidir com a dimensão do personagem face ao seu aparelho em primeiro lugar, depois em relação à imensidão do mar. Estabeleci assim um establishing shot,  passe a redundância. Seria um plano fixo ao longo do filme em que o enquadramento rigorosamente mantido seria a base de uma montagem no interior do plano. Os picos climáticos e dramáticos são veiculados pela deslocação do personagem na profundidade e na forma como cruza o plano, possibilitando uma leitura da linguagem corporal e animática dimensionada com o ambiente. A sua aproximação possibilitada pelo percurso ao longo de uma das asas que cresce em direcção à câmara dá-nos leituras de fisionomia e expressividade na progressão da mise-en scéne.   

No meu filme anterior desenvolvi um tipo de animação orgânica e realista que gostaria de transpor para este projecto no que toca à desenvoltura do personagem. A gestualidade do traço texturado, longe do estilo cartoonista e abonecado, parece-me um expediente interessante quando inserido num drama abjecto ou surreal. A pose, o andar, a pantomina do piloto vestido num quase fato-macaco que é o seu traje de trabalho, leva-nos a um tom clownesco do personagem. Num registo muito de filme mudo, lembro-me de Buster Keaton, o personagem cresce dramaticamente sobre um destroço da tecnologia dos humanos, o avião, ao longo da narrativa. Um destroço inerte e imóvel. O único movimento para além da figura serão os reflexos, as chuvas, a alteração da luz do céu ou o que surge à superfície de água. Esta dicotomia entre movimentos e estático concorrem para o drama desta história.

Em 10 cenas, dez momentos no tempo, assistimos à decadência física e psicológica que se processa num náufrago. A escolha deste estratagema de planificação analítica faz-nos atentar aos pormenores e subtilezas da progressão.

O ambiente sonoro processa-se em dois níveis. O nível mental, do piloto, próprio do contexto histórico-geográfico entre as sonoridades havaianas com as suas características guitarras e a música popular americana dos anos 40, como seria o jazz das big bands da rádio por um lado e por outro, o nível real ou intrínseco à acção que se cruza e funde com o outro nível, quando surgem os indígenas na fase final. Em termos de tratamento gráfico e visual, seria importante dar a dimensão do paraíso tropical, com aproximações ao postal colorido, com pôr de sol e céus de tonalidades quentes reflectidas num mar cristalino e coral. Mas em contraste com as cores sujas e monocromáticas do avião destroçado e o próprio piloto com o seu equipamento deteriorado de cena para cena. A animação será em desenho tradicional, num registo de realismo estilizado que nos transmita o grotesco e limite da situação. O cenário, o conjunto do avião caído e o mar e céu, seria assim fixo mas com um tratamento integrado no todo visual. Experimentar-se hão as modelações de reflexos e coloração da superfície da água, bem como o movimento de objectos à tona. A cena final será muito cuidada em termos de mise-en-scéne, pelo cariz cerimonial e por obrigar ao trabalho de um conjunto de personagens, os indígenas que resgatam o piloto.

À TONA

Um piloto de combate despenha-se no meio do oceano. Quis a sorte que um banco de areia mantivesse o avião à superfície. O resgate tarda, mas acaba por acontecer num estranho cerimonial.

REALIZAÇÃO / ANO

Filipe Abranches; ANI; Cor; 10′ 25”; Portugal; 2018

PRODUÇÃO

DISTRIBUIÇÃO

Autoria, Argumento, Criação Gráfica e Realização
Filipe Abranches
Assistente de Realização
Nuno Amorim
Animação
Sofia Cavalheiro
Montagem
Davide Freitas, Nuno Amorim
Música, Sound Design e Mistura
Eduardo Raon
Voz
Eric Dean Scott
Composição, Efeitos e Pós-Produção
Joana Amorim, Milton Pacheco
Produção
Vanessa Ventura, Nuno Amorim
Produção Executiva
Joana Amorim, Davide Freitas
Intervalos
Sofia Cavalheiro, Sara Nunes
Traçagem
Inês Almendra
Máscaras
Joana Amorim, Inês Almendra, Sofia Cavalheiro, Daniela Duarte, Milton Pacheco
Estúdio de Mistura
Walla Collective
03.2019 – Monstra Festival – Competição Portuguesa SPAutores, Portugal | Menção Especial – Competição Portuguesa
11.2020 – Cinema de Animação OLHO, Portugal
09.2020 – Chaniartoon – International Comic & Animation Festival, Greece
07.2020 – Shortcutz Leiria, Portugal
02.2020 – International Animation Film Festival of Catalonia, ANIMAC, Spain
12.2019 – Animateka International Animated Film Festival, Slovenia
11.2019 – Caminhos do Cinema Português, Portugal
10.2019 – KuanDu International Animation Festival, Taiwan
06.2019 – Animafest – World Festival of Animated Films Zagreb, Croatia
04.2019 – Internationales Trickfilm Festival of Animated Film Stuttgart, Germany
04.2019 – Festival Primavera do Cine, Spain
03.2019 – Monstra Festival – Competição Portuguesa SPAutores, Portugal
02.2019 – Cairo International Forum for Animation Films, Egypt
12.2018 – Piccolo Festival of Animazione, Italy
10.2018 – Casa da Animação – Prémio Nacional da Animação, Portugal
07.2018 – Curtas Vila do Conde Festival Internacional de Cinema, Portugal