Rosa Casaco
O protagonista deste filme, o Casaco Rosa, simboliza o inspector da PIDE (polícia política portuguesa) Rosa Casaco. Enquanto realizadora, importa-me trazer à luz certos contornos dos acontecimentos que envolveram esta figura, contrariar o seu esquecimento e, através de uma linguagem cinematográfica alegórica, registar uma outra perspectiva de Rosa Casaco. O universo infantil da narrativa é usado ironicamente para precipitar um confronto de linguagens. Se por um lado, a estética e a música nos transportam para uma realidade mais pueril, as acções do casaco e de outros personagens como o ferro de engomar são cruéis e imorais, sem que haja qualquer repercussão para os perpetradores.
O filme serve-se de aspectos infantis, conferindo-lhes progressivamente um lado mais sombrio e sério. Como não são usadas pessoas, mas sim casacos e outras peças de vestuário, este imaginário parece inócuo, elaborado na sombra do imaginário dos filmes de infância, onde tudo é aparentemente seguro. Dentro da casa de bonecas tudo tem uma aparência de novo, prístino, como se fossem brinquedos acabados de sair da caixa. Os figurinos são personagens: camisas, casacos, blusas, que demonstram o seu papel na sociedade ou o seu género: a camisa vermelha comunista que guarda os panfletos revolucionários, o casaco de General que demonstra o seu estatuto
e profissão. Naquela casa tudo é perfeito e nada está fora do lugar, ainda assim o Casaco Rosa faz questão de a ordenar à sua maneira: entretém jogos de interesse e de poder, desfaz camisas, elimina casacos numa cave escura.
A casa de bonecas é o cenário principal, escolhida por ser o berço familiar, o tão aclamado lar no período do Estado Novo, a nossa pátria doméstica. Um lugar de intimidade e segurança onde, ao mesmo tempo, se passam situações
hediondas. Contrastando com o universo infantil, o escritório, no arranque do filme, é um espaço adulto, pouco iluminado, onde a história do Casaco Rosa, Rosa Casaco, é remetida ao silêncio das estantes, entre tantas outras histórias. Evoca-se assim uma prática que é comum nas diferentes nações, esconder as histórias domésticas cuja narrativa envergonha. Limitar o acesso a essas memórias, confiadas a sinistros homens de poder.
Animação e Música
O processo de construção de um filme de animação é bastante complexo e desafiante. Ao contrário do que acontece num filme de imagem real, tudo deve ser pensado e construído de raiz. Um dos grandes desafios do filme consistiu em dar expressão, intenção, dramatismo e graça a marionetas sem rosto, objectos e peças de vestuário transformados em personagens com história, comportamentos e personalidades próprias. O Casaco Rosa é um casaco cor-de-rosa e os outros personagens são também peças de roupa (camisas, casacos, gabardines). O seu interior, constituído por armaduras com rótulas especiais, permite que se construa uma linguagem corporal através da sua manipulação e ações ao longo da narrativa, que se desenrola num espaço restrito: o interior de uma casa.
Além da construção das marionetas, feita por fases, figurinos, armaduras e por fim assemblagem, foi necessário idealizar e construir cada cenário da casa e para cada um deles criar um universo próprio de objectos/adereços. Simultaneamente prepararam-se engenhos ao serviço da animação, caso contrário seria um filme sem movimento, composto de objectos inanimados. O simples respirar de uma camisa, obriga a uma variação de enchimentos e um sistema interior para a fazerem subir e descer. Uma mala que é retirada de dentro do Casaco Rosa, obriga à construção de malas de diferentes tamanhos e materiais até assumir o tamanho pretendido. O fagote é o instrumento com maior expressão no filme, dado o seu grande alcance musical. Tal como Rosa Casaco dispunha de um grande leque de influências.
O fagote tem também a peculiaridade de ser um instrumento que se toca de maneira muito rápida, assim como Rosa Casaco conseguiu escapar agilmente à justiça.
O coro infantil revela a história e intenções escondidas do Casaco Rosa. São as crianças que nos indicam logo ao início que aquele casaco é “velhaco”. A letra é construída com base no universo têxtil e feita com palavras simples, próprias de cantigas infantis.
Argumento e Realização
Mónica Santos
Direcção de fotografia
Manuel Pinto Barros
Pedro Negrão
Direcção de animação
Rita Sampaio
Compositor
Pedro Marques
Letrista
Pedro Da Silva Martins
Direcção de arte
Mónica Santos
Actor
Gilberto Oliveira
Animação
Joana Nogueira
Mónica Santos
Patrícia Rodrigues
Rita Sampaio
Estruturas de marionetas
Anna Deschamps
David Roussel
David Thomasse
Direcção de construção e adereços
Joana Nogueira
Patrícia Rodrigues
Construção cenários e adereços
Daniel Fonseca
Joana Nogueira
Matilde Camacho
Milton Pacheco
Nurian Brandão
Patrícia Rodrigues
Adereços adicionais
Atelier02
Maria Nanim
Figurinos
Mónica Santos
Costureiras
Alexandra Barbosa
Fictional Tailors / Lurdes Sobrado
Olívia Santos
Animatic
Jorge Carvalho
Composição
Jorge Carvalho
Milton Pacheco
Sebastian Chala
Thierry Bouillet
Timothée Coquer
Correcção de cor
Léo Mondon
Manuel Pinto Barros
Sound design
Kévin Feildel
Bruitage
Bertrand Boudaud
Mistura de som
Damien Tronchot
Direcção coro
Raquel Couto
Coro Lira
Alice Martins
Amélia Leal
Beatriz Pinto
Benedita Carneiro
Carlota Lameiras
Carolina Barros
Gabriela Dias
Gabriel Ferreira
Laura Amaral
Leonor Parente
Luísa Martins
Margarida Amaral
Margarida Moreira
Maria Alice Sousa
Maria do Pilar de Mendonça
Maria Isabel da Silva
Maria Sampaio
Sara Almeida
Sarah Sampaio
Músicos
Carlos Soares
Luana Santos
Música
“E Depois do Adeus” – Paulo de Carvalho
Autoria
José Niza e José Calvário
℗ 1974 Universal Music Portugal, S.A.
Som de Arquivo
Tradisom Produções Culturais
“Discurso Proferido pelo General Humberto Delgado no Comício Realizado no Dia 22 de Maio de 1958 na Cidade de Chaves”
℗ 1998 Tradisom Produções Culturais
Produção
[Animais AVPL]
Vanessa Ventura
Nuno Amorim
Produção executiva
Davide Freitas
Co-produção
[Um Segundo Filmes]
Pedro Medeiros
Humberto Rocha
Co-produção
[Vivement Lundi !]
Fabrice Dugast
Jean-François Le Corre
Chefe de produção
Caroline Lafarge
Direcção de produção
Fabrice Dugast
Administração de produção
Valérie Amour Malavieille
Assistentes
Melissa Derennes
Nathan Santarossa
Em co-produção com
Arte France
Unité de Programmes Cinéma
Hélène Vayssiéres [Responsável Curta Metragens]
Sylvie Smets
Chafiâa Benaziza
Pascal Richard
Romain Froidefond
Com o apoio de
Centre National du Cinéma et de L’Image Animée
La région Bretagne em parceria com o CNC
PROCIREP – Sociedade de Produtores
ANGOA
Estúdios Imagem
Animais AVPL
Um Segundo Filmes
Compositing
Personne n’est parfait !
Bruitage | Mix
AGM Factory
Laboratório
AGM Factory
Equipamento
Filmesdamente
Filmes da Praça
Um Segundo Filmes
Apoio à produção
A Casa do Livro – Norprint
Casa da Animação – Associação Cultural
Casa de Figurinos
Cristina Rebelo
Desocupado Porto
Duarte Ferreira
Fernando Carvalho
Filmes da Praça
Marcelo Lafontana
Patrícia Figueiredo
Play Audiovisuais
Qualia Prod
Sítio do Cano Amarelo
Agradecimentos
Ana Carina Estróia
António e Olívia Santos
Carlos Fonseca
Cláudia Ribeiro
Daniela Duarte
Fernando Carvalho
Irene Flunser Pimentel
Joana Amorim
Joana Araújo
José Moças
Mathieu Courtois
Miguel Campos
Nuno Rodrigues
Ophélie Broudin
Pedro Lucas
Regina Guimarães
Regina Machado
Rita Pires
Vítor Estudante
Vítor Santos
07.2022 – Curtas Vila do Conde Festival Internacional de Cinema