Não sei se sou capaz de justificar a minha fixação por datas, por perceber o estado das coisas mais banais em diferentes pontos do tempo. O que é facto é que esta fixação cresce exponencialmente ao encontrar imagens da minha cidade num passado em que eu já existia e que presenciei, mas do qual não tenho memória. Como se abrissem portas para um mistério insaciável intimamente ligado à minha essência, talvez por pertencerem a uma altura em que compreendia o mundo de uma forma totalmente diferente.
Gostava de montar a cidade com os meus olhos da altura e de viver nela. Parece-me mais realista fazê-lo num filme. “porto2000” parte da conclusão de que nem todas as memórias se prendem a eventos importantes, e da necessidade de recriar este mundo respeitando a natureza das memórias sensoriais. Cada vez mais me convenço que estas, cheias de pormenores, cheiros, texturas, cores e sons, ocupam um espaço tão legítimo e importante como as mais convencionais.