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Nota de Intenções

Iniciamos nossa jornada na animação em dupla, nos complementamos através de nossas diferentes habilidades e trajetórias anteriores e compartilhamos a motivação para lidar com questões sociais. Interessa-nos a animação de volumes porque tem implicações directas na utilização da escultura, que é uma técnica de eleição que partilhamos. “Três vírgulas catorze” é uma curta-metragem sobre a relação entre a sociedade e o ser criança hoje, que expõe particularmente o estigma do diagnóstico de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) e consequentemente o sentimento de diferença que lhe é imputado.

A ideia surgiu de conversas com um psicólogo social, David Santos, que em meados de 2016 estava a investigar questões que pudessem estar relacionadas com futuros condicionamentos sociais, sendo de opinião que o excesso de diagnósticos de hiperatividade e consequente medicação em crianças será um fator condicionante do seu desenvolvimento. Estes momentos de partilha e discussão surgiram numa altura em que o nosso trabalho estava essencialmente centrado no universo infantil, através de oficinas de cinema de animação que realizamos regularmente. E assim que nos deparamos com esse assunto, começamos a pesquisar. Começámos por procurar opiniões divergentes que rodeiam este tema, mas em resumo retivemos a informação deixada por Leon Eisenberg (1922 – 2009), o psiquiatra infantil norte-americano que deu base científica ao TDAH, e que desde cedo se manifestou contra a banalizou o excesso de diagnóstico da doença, destacando as questões sociais e humanas como base para os problemas comportamentais das crianças.

“Três Vírgula Catorze” é um curta-metragem que se desenvolveu organicamente, adaptando-se constantemente através de experiências em pesquisas de campo. Após a fase de investigação atrás dos muros, explorámos o tema em escolas situadas em diferentes contextos sociais, através de oficinas programadas que visaram observar a capacidade de integração na relação entre a criança e o contexto escolar. Ao longo das sessões mantivemos um diário de reflexões sobre a nossa experiência, ora concretas, ora poéticas. E este é um filme onde os expomos, abordando demonstrações de comportamentos e emoções recolhidas durante esse processo. Através da metáfora e da personificação, falamos de escola, infância, condicionamento, prisão.

Ao delinear a narrativa, personagens e ambientes, partimos da premissa de que existem vários espectros de um mesmo momento, e estes 4 podem ser entendidos em diferentes níveis de realidade: físico – emocional, coletivo – individual, real – digital. E partindo desse pressuposto, o filme apresenta momentos cíclicos que divergem no espaço, no tempo e nas formas. Os cenários, repletos de simbolismo, dão forma a um universo peculiar onde os personagens estão intimamente inseridos. Porém, existe o controle supremo, Durga – a garota robô – que de seu quarto manipula os demais personagens, impõe seu ponto de vista e interfere em suas ações. Sendo uma personagem típica, Durga representa a sociedade e suas diretrizes de boa conduta. Nas restantes personagens procurámos representar características associadas às crianças com TDAH: dificuldade em lidar com a frustração – Óscar, a não identificação com a imagem projetada – Mateus, a falta de concentração e a recorrente procura de um refúgio criativo – Mara.

A par do universo imagético, temos o áudio como elemento chave na criação de sensações no espectador: o sound design conduz-nos através de diferentes sensações, que nos permitem partilhar a sensação de ansiedade e calma, de excitação e frustração, de liberdade e de bloqueio. A curta-metragem mistura duas técnicas de animação – stop-motion e 2D – de forma a obter maior plasticidade narrativa e estética. A utilização de marionetas remete-nos ao brincar e ao mundo tangível e ao desenho para o imaginário. Procurámos construir um universo visual inspirado nos anos 80 e 90, com o objetivo de despertar o regresso à infância nos adultos e marcar a presença das crianças de hoje e dos seus problemas através da narrativa.

Desenvolvemos os personagens como símbolos de comportamento e personalidade, eles não possuem olhos nem boca e sua expressão é meramente corporal. Inspiram-se nos pequenos brinquedos de plástico como metáfora da forma como a infância tende a ser fabricada hoje. Todas as nossas ideias evoluíram na premissa de focar na infância e no poder de controle, no estigma social do diagnóstico – o rótulo – e no sentimento de frustração, dimensões estas intrínsecas ao tema da hiperatividade. Queremos que este curta seja uma motivação para pensar o lugar que vivemos e pensamos no filme como um objeto que incentiva questionamentos e pesquisas.

TRÊS VÍRGULA CATORZE
Três Vírgula Catorze
A incapacidade de fazer uma pausa, de ficar quieto ou de ficar em silêncio, a sensação de estar preso dentro de si, essas são algumas das experiências relatadas por crianças com diagnóstico de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).
Uma viagem interior através do seu universo, onde lutam contra a sua própria visão do mundo e o que se espera deles. Através de um ciclo incessante de acontecimentos, moldados por uma mão robótica, uma alegoria é-nos trazida sobre as mentes e o comportamento destas crianças.
Realização
JOANA NOGUEIRA, PATRÍCIA RODRIGUES, 2024, Animação 2D Stopmotion Documentário Curta-metragem Cor 11′ 40″, Portugal
Idioma Original: Português
Legendas: Inglês
Suporte de Exibição: 2K, 1:1.78, DCP
Créditos
Música
Nico Tricot
Director de Fotografia
Produção Executiva
Animação Stop-motion
Animação 2D
DANIELA DUARTE PATRÍCIA FIGUEIREDO Luís Vital, Hugo Santos, Maria Rikitina, Maria Avelar
Desenho e Construção de Marionetas
SonoplastiaFoleySound DesignMistura de Som
Duarte Ferreira
Estruturas de Marionetas
JOANA NOGUEIRA Sandra Santos
Peças Silicone (Marionetas)
Catarina Santiago
Protótipos de Marionetas
JOANA NOGUEIRA Nurian Brandão
Direção de Construção e Adereços
Construção de Cenários
MILTON PACHECO Daniel Magalhães, Lukas Winter
Adereços
JOANA NOGUEIRA PATRÍCIA RODRIGUES MATILDE CAMACHO MILTON PACHECO Daniel Magalhães , Lukas Winter, Marte Hipólito
Estagiários (Adereços)
Filipa Pereira | EASR, Tó Magalhães | EASR
Maquinista
Pintura
Desenho de Personagens (2D)
Estagiários
Maria Avelar | Escola Árvore, Catarina Nogueira
Música Animatic
Lázaro Pereira
Pós-ProduçãoCompositingCorreção de Cor
Concept Art (Jardim)
Daniel Roque
Apoio à Produção
Praça Filmes, Casa da Animação, Play Audiovisuais, Miguel Campos | Light Cut
Pesquisa e Entrevistas
Escolas e Profissionais
Escola EB 2, 3 Irmãos Passos | professora Conceição Cabral, Escola EB 2, 3 Manoel de Oliveira | professor Francisco Guerreiro, Escola Básica D. Pedro I | psicóloga Gilda Nóbrega
Contabilidade
ACR - Contabilidade e Consultadoria
Agradecimentos
Abel Mourão Pinto, Alice Guimarães, Ana Carina Estróia, Cátia Vidinhas, Catherine Totems, Conceição Cabral, Edu Puertas, Fernanda Afonso, Francisco Guerreiro, Georgina Kakoudaki, Gilda Nóbrega, Helena de Sá Freitas, João Monteiro, João Rodrigues, João Tiago, Jorge Ribeiro, John Stephens, Marcin Zalewski , Maria João Sampaio, Nancy Denney-Phelps, Nik Phelps , Paula Custódio, Regina Machado, Rita Sampaio, Stathis Paraskevopoulos, Teresa Branco, Vanja Andrijevic, Xavier Kawa-Topor e aos pitching nos festivais: Animarkt, Animasyros,Curtas Vila do Conde e Drama Film Festival
Agradecimentos Especiais
MILTON PACHECO David Santos e às nossas famílias e amigos ao bairro e alun@s no Terra Boa