8’ animated short by Lukas Winter
O ALFAIATE e o POLÍCIA são um casal, mas o alfaiate não consegue parar de pregar partidas ao polícia. Vivem num mundo que tem uma singularidade: objetos e matérias com a mesma cor podem fundir-se e atravessar-se.
Zangado por ter sido mal pago pelo ARTISTA presunçoso, o alfaiate decide assaltá-lo na inauguração da sua exposição, disfarçado de misterioso ladrão de cores. Mas o polícia também lá está. Poderá a genial indumentária do ladrão salvá-lo das balas disparadas pelo seu amado?
The tailor and the policeman are a couple, but the tailor can’t stop playing tricks on his partner. They live in a world with a small quirk: Objects with equal colours can merge and pass through each other – but everyone considers it a nuisance and nobody has realised the advantages. As the policeman goes to his boring office job, which he keeps secret and is deeply ashamed of, the tailor receives a special customer. A vacuous artist has ordered a colourful outfit and come to pick it up. Too bad for him that he is so narcissistic that he believes a few coins and an invitation to his exhibition opening are payment enough for the tailor. While the police officer daydreams of chasing a mysterious thief, the underpinnings of the tailor’s shenanigans come to light as the secret kleptomaniac slips into the homemade outfit of the genius colour thief. He has layered full-body jumpsuits in different colours in order to hide inside floors, walls and furniture. Intent on revenging the underappreciation of his work he infiltrates the exhibition opening and tries to steal the artist’s latest masterpiece, a self portrait in his new robe. But it just so happens that the police officer passes by the gallery on his way from work in the exact same moment as the heist is discovered by the guests. As chaos ensues, the artist tries to rescue his work only to accidentally merge with his own painting due to the strange colour-merging mechanics of this world. The policeman, unaware of the thief’s identity and eager for action, confronts the burglar. A shot is fired – but the bullet merges with the final layer of the tailor’s outfit, a brass-coloured jumpsuit. For a moment, the consequences are unclear. Then the gallery guests break into applause. What a marvellous performance! They carry the trapped artist and the magic weapon into the gallery, give it a price tag and continue with their socialising while the tailor and policeman are left to reconsider their relationship and career.
Colourama Drama pretende ser uma comédia alicerçada num mundo de contornos reais, as que contém um tipo de absurdidade que só é possível criar através da animação, uma vez que se alteram os princípios da realidade. Embora esta peculiaridade neste mundo feito de personagens seja a força motriz do enredo, cada personagem é regido por razões inteiramente humanas, ainda que exageradas. O objetivo do filme é abordar questões da vida quotidiana de forma humorística e surrealista.
Colourama Drama é simultaneamente uma história de amor e uma história de traição e centra-se na esfera dos segredos. Estes fazem parte da natureza humana, há factos que até entre casais são ocultados e muitas vezes estão escondidos bem à vista de todos. As tentativas de dissimular a insegurança ou de esconder algum traço de personalidade reprimido do parceiro servem para evitar desapontá-lo, embora o acto de o revelar também compreenda um risco. A forma como o casal de Colourama Drama se comporta e se relaciona é reflexo de observações do meu próprio comportamento e do de outros em relações bem sucedidas e em relações falhadas. Esta história, no entanto, não pretende representar um bom ou um mau exemplo: no final é a individualidade de cada um que influencia o desfecho e não a observância rígida das regras da física imaginadas para este mundo.
O filme aborda também as complicações desnecessárias e os obstáculos que criamos para nós próprios. É por esta razão que o fenómeno da fundição dos objectos com a mesma cor permanece um mero incómodo para quase toda a gente. Só o alfaiate, na sua identidade secreta de ladrão colorido, vê além das limitações da sua vida oficial. O ladrão colorido é concebido como a melhor versão de nós mesmos, reflecte o que desejamos ser, um personagem trapaceiro e despreocupado que não se prende a complicações quotidianas nem a deliberações morais elaboradas.
O oposto aplica-se ao polícia. Este personagem é apresentado como a personificação da justiça, estando no entanto condenado a um trabalho passivo de observação do que está certo ou errado. Para mim é importante combinar estes extremos opostos no espectro da legalidade e ilegalidade, a fim de abordar as discrepâncias entre legitimidade e legalidade na vida quotidiana.
Para além de ser construído como um encadeamento de acontecimentos infelizes, a história pretende criar intriga incorporando periodicamente pequenas piadas com base na premissa da fusão de cores. Através do humor, o filme procura manter o espectador envolvido na temática da história.
O fluxo contínuo de eventos que estão ligados de maneiras absurdas e por coincidências incríveis, e que conduzem a história para um clímax inevitável, é uma característica da animação estónia que aprendi a apreciar durante os meus estudos no país.
As personagens são também inspiradas num estilo gráfico recorrente na animação estónia, em particular nos filmes de Chintis Lundgren. A forma como os seus personagens animais quebram os limites da sociedade através da descoberta do seu lado brincalhão também se reflete na ação do meu filme. Embora use assumidamente personagens antropomórficas, o seu desenho e comportamento incorporam algumas características da fauna, como é o caso do polícia que se assemelha ligeiramente a um peixe, e o artista que se assemelha a um pássaro.
A nível estilístico, aponto para uma aparência e uma sensação próxima do desenho animado clássico, substituindo o foco na suavidade e consistência por uma abordagem ingénua e solta que de certa forma se adequa à lógica da história e da premissa. Tanto a componente visual como a sonora assumem uma conotação amadora intencional de forma a que, sem nunca chegar ao ponto de tornar as intenções do enredo obscuras, possa servir a apresentação do mesmo num ritmo rápido. Para isto também tenciono tirar partido directo dos grafismos, do estilo e dos sons característicos dos meios tecnológicos do início dos anos 80, como o VHS e os sintetizadores analógicos.
A premissa para o Colourama Drama está presente nas minhas ideias desde há algum tempo e começou na sequência de uma conversa com os meus colegas da Academia de Artes da Estónia, durante uma tarde em que falávamos sobre a construção de histórias que só podem funcionar na técnica de animação. No entanto, a trama só começou a ganhar forma no princípio do meu estágio de stop motion na Animais AVPL. A oferta generosa do estúdio em me proporcionar o tempo e o espaço necessários para o desenvolvimento desta curta-metragem chegou no momento certo. Pela experiência e a dedicação da produtora em todas as técnicas de animação, mas também pela abertura com que as minhas ideias foram acolhidas, fiquei convencido que o Porto é o sítio certo para produzir este filme.
Colourama Drama is a film with a trick, a small quirk in the way its world functions unlike ours, that functions as the driving force behind the plot. In that sense, it is a comedic exercise of “What if…?”, a light-hearted thought experiment of physical reality.
Nevertheless this world aims to exemplify the familiarity that lies within the characters’ emotional reality. In a humorous yet surrealistic way, this film approaches matters of everyday life. A love story and a story of betrayal at the same time. Secrets are part of human nature, sometimes hidden even from our significant other, often hidden in plain sight.
The secret key to this world is likewise an open secret to its inhabitants, a mere everyday nuisance that nobody questions except for the tailor. In this function, the merging of equal colours serves as a symbol for the unnecessary complications and problems we make for ourselves.
Perceived from the right perspective however, obstacles in life can become tools, as it does for the tailor.
Rarely does a secret come without lies. The simplest, most common lie is that of keeping up appearances. The police uniform hides the police officer’s quiet surrender into a mundane job not just from strangers. At home it has become more of a fetish object to the tailor than a symbol for the defence of what is right. Likewise the tailor’s kleptomaniac tendencies are never spoken about, but hidden in plain sight in the form of the openly displayed jumpsuits. We see thus the common occurrence of a relationship between two people that love each other, but are still not completely honest out of fear of losing each other’s acceptance. The
moral dichotomy of criminal and law enforcement clearly plays an important part in their mutual attraction, yet is concealed for its moral implications.
The narrative hints at the discrepancies between legitimacy and legality in life. Underpayment and underappreciation of artists is an unfair, yet common and legal practice that occurs every day, even between one artist and another as it does in the story. The defender of the law is often a mere mechanical executor of questionable legal practices that break down in a moment requiring sudden moral judgement. The colour thief breaks the monotony of legal illegitimacy with unforeseen but inevitable consequences.
The “trick” of merging colours has to reconcile the confrontation in contrast to real life that never provides full closure. Yet a doubt remains in the question: Where is the bullet?
Budget: 130.000,00 €